Nesta entrevista, conversamos com Marcelo de Oliveira. Ilustrador profissional, quadrinista, escritor e arte educador, e um dos fundadores do estúdio curitibano de webcomics, UCMComics.
Marcelo iniciou sua carreira dentro das HQs em 1987, quando montou o estúdio com vários outros colaboradores. Além de escrever roteiros de histórias em quadrinhos e desenha-las, ele ministra aulas, promove palestras e workshops, e escreve sobre o assunto.
Conversamos um pouco com ele para entender como a UCMComics nasceu e como o processo de produção de uma revista de história em quadrinhos é feito. Além disso, Marcelo fala sobre sua visão em relação às webcomics em relação à edições físicas. Confira.
“Fale um pouquinho sobre a história do estúdio.”
“O Estúdio UCMComics nasceu na imaginação de dois sócios: Marcelo de Oliveira e Marcelo Castilho. Com a colaboração de vários artistas que passaram pelo estúdio tivemos a oportunidade de criar muitas revistas, participar de eventos, Oficinas, Workshops, entrevistas, coletâneas, etc.
Quando entrou o ano 2000 montamos o primeiro site do Estúdio, onde disponibilizamos gratuitamente quadrinhos digitais para download. Nós fomos uma turma de pioneiros! Com o passar dos anos o site foi se modernizando, sempre com quadrinhos digitais gratuitos, que é a excelência do Estúdio. Na verdade, nossa intenção sempre foi divulgar o quadrinho independente brasileiro.
Respiramos roteiros e desenhos há mais de uma década e hoje, como arte educadores, ensinamos outros tantos a também desenhar e elaborar histórias em quadrinhos, porque além de novos talentos precisamos fomentar novos leitores.”
“Para você, como é o processo de criação de uma história em quadrinhos (desde a ideia para a história até a impressão e veiculação)?”
“A criação das nossas HQs partem do princípio de que precisamos atualizar constantemente o site com novas revistas digitais. Assim, o roteirista começa a elaborar a história criando uma sinopse. Esta sinopse já nos dará a noção do gênero da história e em qual revista caberá melhor sua publicação. Depois disso, o roteirista passará para o argumento.
O argumento é um texto corrido, como uma redação, contando os por menores da história, seus pontos de gancho, seus momentos de ação, o clímax, apresentando seus personagens. Quando finalizado, este argumento se transformará num roteiro de quadrinhos, que se diferencia bastante do roteiro de outras tantas mídias, como o cinema, por exemplo. Num roteiro de quadrinhos, basicamente, o texto precisa estar especificado dentro de algumas regras onde se separará as ações em tempos, requadros, respiros, entre quadros, páginas, quadros, diálogos, narração, etc.
Após todos esses esquemas estarem devidamente explicitados e escritos, junto com o artista será feito o storyboard, que consiste em o artista esboçar rapidamente o conceito de cada página e de cada quadro para mostrar sua ideia geral ao roteirista, até mesmo para que ambos entrem em sintonia onde o argumento deverá estar coerente para ambos os profissionais. Depois deste acordo, o desenhista parte para a tarefa de dar vida artística à obra, criando concepções e deixando sua criatividade aflorar.
Quando todo o processo de desenho a lápis termina, o arte finalista começa a dar o seu toque colocando a tinta nanquim sobre o lápis do desenhista. Em seguida, as páginas serão digitalizadas, colocadas no computador para alguns ajustes e tratamentos, coloridas (caso seja o interesse do roteirista), diagramadas, montadas e fechadas num arquivo para ser enviadas para a gráfica. A gráfica já saberá de antemão, por intermédio do editor, tamanho, tiragem, papel e outros requisitos gráficos. Depois de impresso, estes quadrinhos irão para a veiculação na imprensa e serão vendidos em lojas especializadas, assim como em eventos de quadrinhos em todo o Brasil.”
“Nós sabemos que hoje existem várias HQs que estão disponíveis apenas digitalmente. Existem muitas diferenças no processo de produção de uma versão física para uma online?”
“Para o quadrinho digital, não há muita diferença no processo dado ao roteirista, ao desenhista, ao arte finalista e ao colorista. Muitas vezes, esses artistas preferem trabalhar muito mais no computador, do que a mão livre, o que não difere nada em sua importância e competência. A revista digital ela será publicada apenas online, então o processo acaba parando antes do fechamento do arquivo para à gráfica. A revista se transforma num arquivo digital onde poderá ter várias extensões diferentes (pdf, epub, mobi, cddisplay) para poder ser lido em plataformas smarts. Esses arquivos digitais, essas revistas digitais, poderão ser vendidos através de um download pago ou gratuitamente, como acontece no site da UCMComics.”
“E por último, você acha que assim como os jornais impressos, as histórias em quadrinhos na versão física, estão ‘morrendo’/sumindo? Qual é a tendência do mercado?”
“Não creio que assim como os jornais, as revistas em quadrinhos acabem se transformando apenas numa plataforma digital. A leitura em papel ainda é muito forte entre os leitores desta mídia e jamais teremos o digital substituindo uma boa leitura em papel, justamente porque o virar de página de um quadrinho físico ainda é uma modalidade que precisa ser feito lambendo-se a ponta dos dedos, esperando por um clímax desesperador, que só se encontrará virando-se metodicamente a página anterior antevendo a página seguinte.”