Oi, se você é artista e assim como eu gosta de escrever já deve ter se perguntado.
“Como eu crio o meu próprio mundo e histórias?”
Bom não é tão difícil quanto parece e por isso no artigo dessa semana eu vou criar um mundo com vocês e mostrar algumas técnicas que eu uso pra trazer essa narrativa para meus estudos de desenho.
Primeiro vamos começar pelo começo e para construir um mundo como todos sabemos, precisamos de uma peça fundamental que é uma estrela de combustão a hélio, felizmente a internet nos permite pedir uma pela amazon, pode ser que demore um pouquinho e o frete é meio caro, há brincadeiras a parte você vai precisar só de um lápis ou uma caneta e algum lugar pra começar a anotar as suas ideias.
Se você já tem uma história ou um tema e quer construir um mundo ao redor disso é bem mais fácil, mas vamos aos poucos, primeiro criando a ideia e depois refinando para que realmente fique mais fácil imaginar todo o mundo à volta disso.
Eu dou muito destaque a ideia porque, quanto mais você pensa o seu trabalho artístico mais fácil vai ser sua escolha e busca da utilização de referências depois.
Ok então vamos começar pelo começo.
1. Tema e ideia:
Tudo precisa ter um começo e ainda mais uma ideia que a gente quer seguir, então ao começar a criar o seu mundo para criar suas histórias você precisa definir o tema e o gênero das histórias, até porque você não pode fazer tudo.
Não tem como colocar uma narrativa futurista junto com uma história que fala sobre os homens das cavernas, então sempre tenha uma noção de equilíbrio e ainda mais das motivações do porque a sua história está sendo contada.
A motivação vai ajudar a definir o tema e ela é tão importante que grandes estúdios como a Pixar dão um destaque principal para essa regra dentro das suas 22.
Mas como definir um tema e motivação?
A motivação pode surgir de valores subjetivos ao escrever sua história como por exemplo,
- Monstros S.A - As dificuldades e os medos de se tornar um pai
- O Gigante de Ferro - Uma amizade inesperada, escolhas e sacrifício
- Nemo - Promessas e esperança
Esses são apenas alguns exemplos de como uma história tem sempre muito mais a contar do que as artes e os diálogos mostram e se você não dá atenção para esse lado ao criar a sua história, o escrever ela também acaba não tendo muito sentido, porque como fala o autor Scott MCcloud em seu livro Desvendando os quadrinhos, “uma história sem conteúdo, só pela beleza é como uma maçã oca, pode até ser bonita e se destacar das outras, mas só atrair não sustenta.”
E isso vai servir e muito, tanto pra sua arte quanto pras histórias que você busca escrever, até porque você pode ter uma técnica muito boa e sua arte ser muito bonita mas ainda falta uma pitada narrativa para dar vida além só do que tá realmente desenhado ali.
Então agora vamos buscar um tema juntos, a história antes de tudo precisa ter um tema simples.
E pra se manter em uma história com temática simples você pode também utilizar referências e antes da gente definir o tema, vamos buscar referenciais para essa produção.
Dividindo pela funcionalidade dentro do que a gente quer criar.
Então para referências é sempre bom ir em gêneros conhecidos, no início de uma obra tentar criar algo do zero pode acabar mais afastando você do que realmente produzir algo bacana, então evite a sua história sobre minhocas zumbis que tem uma gangue de patinetes e busque referências de grandes obras como, senhor dos anéis, as aventuras de tintin ou a turma da mônica, elas podem orientar e muito a sua produção, dependendo claro do que você quer fazer.
Porque se são grandes obras e ainda mais um nome tão importante no gênero que estão é porque fizeram um bom trabalho.
Busque dividir também as referências por finalidades, como por exemplo, ambientação, câmera, composição, estilo e isso pode ir até mesmo em referências narrativas, como situações específicas ou até mesmo uma forma de linguagem que vai definir a personalidade de um personagem, seja em algo mais formal ou informal.
Viu, construir uma ideia do zero pode ser um pouquinho complicado, mas te garanto que com todos esses preparativos em mãos você vai ter todas as referências para se preparar para qualquer perigo que possa surgir em sua jornada por esse mundo novo que você cria agora.
Mas ainda é muito perigoso ir sozinho, tome isso!
Pra não esquecer e muito menos sair do foco do que você tá criando, lembre sempre de anotar e de descrever da forma que for melhor pra você e pras pessoas que trabalham com você nesse projeto, tudo que pode ser útil em referências, textos e revisões, porque convenhamos que é sempre melhor falhar pelo exagero do que sofrer pela falta.
Mas voltamos a nossa história, então já conseguimos separar as referências para começarmos a escrever? Ótimo, agora vamos definir um tema!
O tema é o ponto central da sua história, no meu caso como estou escrevendo “o pescador de estrelas”, com as referências do planeta do tesouro e atlantis, a minha história então vai caminhar pelo mesmo princípio de destaque desses dois filmes a exploração de um universo fantástico.
E como diz o escritor querido do meu coração Raoni Marqs “o conceito da sua história precisa ser interessante e fácil de explicar”
Então na minha história o conflito entre a tradição da magia antiga e os avanços da modernidade ameaça a existência dos pescadores de estrelas.
Viu, com referências não foi tão difícil assim definir qual é a nossa história.
Mas também não se cobre tanto em criar algo novo ou genial de primeira, a persistência é o que realmente vai trazer resultados, por isso não desista nos primeiros desafios e inimigos que vão surgir no meio do caminho.
2. Contraste conceitual:
Para construir uma história a gente precisa entender o que a gente quer dessa história e qual vai ser o tema tratado sobre ela e pra isso você vai precisar de CRIATIVIDADE! (e claro referências)
Mas como assim referências e criatividade?
Toda história tem um tema que busca tratar e por mais que você queira produzir uma história sobre minhocas zumbis que tem uma gangue de patinetes, você ainda precisa de referências para criar tudo isso.
Então eu vou pra minha história, para ajudar vocês com a sua.
- Primeiro vamos definir melhor a ideia da história.
- Eu quero escrever algo com o tema “Pescadores de estrelas”
- Certo, e esses pescadores pescam em um estilo mais moderno ou mais rústico?
- Rústico!
- E porque eles pescam essas estrelas?
- Porque eles extraem a magia para manter-se vivos das estrelas.
- Ok e qual é o conflito que te dá a motivação para que eles vivam essa história que você quer contar?
- É o conflito do velho e do novo, com a modernidade apagando aos poucos essa história e cultura.
Então agora depois de deixar que a nossa obra fale um pouquinho mais dela mesma, agora a gente consegue buscar as outras referências para criar um contraste conceitual.
- Primeiro, como é pensado a ambientação?
- É o mar no espaço.
- Certo tem obras que já fizeram isso?
- Se sim, quais são e como elas aplicaram essa estrutura?
- Sim, tem obras que já fizeram isso, no caso Avatar (James Cameron) e o planeta do tesouro.
Se não, como você pode dividir os estilos e soluções de diferentes obras para chegar na resposta que você quer?
- Caso o seu não tenha, é sempre bom dividir o tema da sua história em partes, por exemplo Star Wars = Magos e fantasia medieval no espaço
- Cowboy bebop = Velho oeste futurista, na época da exploração espacial.
- One piece = Piratas e super poderes
E assim em diante, o contraste conceitual é algo que vai definir e muito o principio de produção da sua história e da sua arte, porque aqui a gente começa a traçar a linha entre caos e ordem.
- Caos, em tentar dar destaque pra tudo e não mostrar nada
- Ordem, mostrar só realmente o que importa, então tome cuidado.
Ok, agora que a gente definiu por onde nossa história vai caminhar, como eu realmente posso criar contrastes?
Você sempre precisa exercitar o desenvolvimento artístico do seu trabalho, porque nesse caso as respostas são complicadas, então imagine que é como se os resultados mais incríveis do seu trabalho estivessem em uma estante, os mais fáceis de alcançar, nem sempre vão ser os melhores, já os que você precisa se espichar mais e pegar uma escada, esses sim são os resultados que pouca gente chega e que podem ser extremamente inovadores.
No meu caso, eu poderia só colocar no espaço e como já tenho filmes que fizeram isso, posso criar dentro dessas obras com conceitos e ideias já resolvidas sem precisar me preocupar. Só que essa solução seria fácil demais e não apresentaria os resultados que eu quero, tanto na inovação de uma obra minha exercitando ideias quanto de jogar um elemento completamente diferente em união a uma ideia completamente oposta para ver se eu consigo tirar do caos a ordem.
E agora que a gente definiu o contraste a definição do cenário e dos personagens vai ser mais interessante ainda porque agora você vai explorar o mundo que você está criando.
3. Como o mundo funciona?
Desde máquinas steampunk até grandes espaçonaves que cortam o hiperespaço, tudo funciona de alguma forma, assim como nada vem do nada e tudo tem um porquê de existir.
Aqui você está racionalizando o lado natural da vida, desde o tamanho das ondas até o interpolador interdimensional de partículas subatômicas quânticas da sua espaçonave.
E bem aqui nessa escolha de como o mundo funciona, que vamos decidir o porquê das coisas e de se vamos descrever tudo do mundo, o que nem sempre pode ser uma boa escolha, descrever de mais pode tirar a magia do imaginário da obra e também descrever de menos pode acabar deixando tudo muito abstrato e o mundo pode não soar muito realista.
Por isso precisamos buscar o equilíbrio e definir um realismo imaginativo!
Como assim realismo imaginativo?
O realismo imaginativo vai ser a chave para criar coisas como, as naves de Star Wars, os monstros de senhor dos anéis e até mesmo os ataques especiais dos campeões do lolzinho.
Porque como diria o próprio Miyazaki em seu livro Starting point “Um anime pode representar mundos fictícios, mas, mesmo assim, acredito que deve ter um certo realismo em seu núcleo.
Mesmo que o mundo retratado seja uma mentira, o truque é fazer com que pareça o mais real possível.
Dito de outra forma que o animador deve fabricar uma mentira que parece tão real, que os espectadores pensaram que o mundo retratado pode realmente existir.”
Então essa realidade “falsa” vai se basear e muito em como vemos e interpretamos o lado real da nossa própria realidade, por exemplo o bater de um motor quando o avião está ligando, o personagem assoprando a comida quente para que esfrie um pouco antes de comer e principalmente os botões e chaves que ligamos e viramos para acionar todo o maquinário que vai nos levar a viagens magníficas além das estrelas.
Por isso eu mesmo criando uma história com vocês aplico esse realismo imaginativo, não em contar como fazer isso, mas mostrando por meio da história que quero contar.
Então faça o mesmo com quem consome a sua história e ilustração, mostre pra eles como o mundo funciona ao invés de contar com palavras, porque tenho certeza que a arte pode exemplificar muito melhor um sentimentalismo, do que uma palavra dura possa dizer em cada uma dessas linhas.
Então pra mostrar como o mundo funciona tem algumas perguntinhas do livro Framed ink que podem te ajudar, caso esteja com dúvidas.
Perguntas:
- O que estamos tentando dizer em nossa narração como um todo?
- Em que humor queremos que nosso público esteja ao longo da história e a qualquer momento dentro de uma sequência ou cena específica?
- Qual é a função desse momento na história?
- Como vamos levar nosso público até lá?
- O que em nosso desenho está contribuindo para a afirmação geral?
- O que podemos deixar de fora sem mudar o que estamos tentando dizer?
Toda arte que você faz e toda arte que é vista nos filmes e jogos que você mais gosta é pensada, tudo está ali por um motivo e você precisa trazer esse motivo e racionalização pra dentro da sua arte também, porque como eu disse antes por mais que esteja bonito, só beleza por beleza não torna uma arte interessante.
Então tendo uma orientação definida agora você precisa pensar no final também.
Porque toda história tem um começo, meio e fim e pra isso depois de pensar bem em todos esses passos para criar uma história e do que você quer contar, você pode começar a apresentar também o que torna esse mundo interessante, que é a vida que você pode criar dentro dos detalhes mundanos, por exemplo as falhas sendo um início para a vida humana que existe nesse universo, então pense também nas histórias paralelas que vão dar vida para cenários e escolhas artísticas.
Por exemplo, se tem um monumento quebrado, porque ele está quebrado? Porque não concertam? Ele quebrou porque é velho? Quem ou o que é essa pessoa ou evento retratado no monumento? É um ponto principal na história desse mundo?
Esses pontos quando pensados vão dar o peso certo para criar o lado humano nesse mundo maravilhoso, que vamos nos relacionar, chorando, rindo e esbravejando com raiva.
Agora você só precisa expandir mais sua biblioteca artística com perguntas que vão guiar e tornar como o próprio Miyazaki diz a mentira que todos nós vamos acreditar e que vai ficar viva no coração e na memória de todos que desejaram explorar esse mundo magnífico com a gente.