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Tabitha King: Terror é Coisa de Mulher e Eu Posso Provar!

Giana
Publicado em
16 de junho de 2020

Há alguns anos atrás, eu e alguns amigos nos reuníamos para assistir filmes durante as tardes de folga do colégio. Lembro que uma vez, fomos assistir “A Casa de Cera” e nos primeiros quinze minutos da história, comentei minhas percepções e quando o final se aproximou, minhas previsões se confirmaram. Levei algumas almofadadas por antecipar os spoilers e guardo boas memórias desse tempo.


Hoje, refletindo sobre isso que me propus a escrever de mulheres produzindo terror, lembrei desse momento. Pode ser que eu tenha uma boa percepção geral e isso ajudou a desvendar o filme de cara? Sim, pode ser. Mas, se a gente for parar pra analisar, a atuação e a construção das personagens mulheres no terror é quase sempre frustrante. E que bom que há mais mulheres produzindo Literatura e Cinema de Terror para mudar esse contexto.


Enquanto pesquisava dados para esse texto, encontrei dados do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia em parceria com o Google. Segundo essa pesquisa, o horror é o único gênero em que as mulheres aparecem mais em tela que os homens, com 53% de tempo. Também 47% das falas são dessas personagens. Legal! Então, Giana, isso quer dizer que há representatividade nesse gênero artístico? Definitivamente não.


Pesquisadores que escolheram o terror como objeto de estudo científico apontam que há dois clichês utilizados nas histórias: a mulher como monstro e a mulher como vítima que precisa de amparo masculino.


O que acaba sendo contraditório, já que as mulheres têm um papel fundamental na história dos gêneros de terror e ficção científica. Basta lembrar de Mary Shelley. Em 1818, a escritora publicou “Frankenstein”, considerada a primeira obra de ficção científica. Avançando um pouco no tempo, temos também Anne Rice, considerada a mais importante criadora de ficção de horror dos tempos atuais. Seu primeiro romance é “Entrevista com o Vampiro”, de 1976. O livro ressignificou os personagens vampiros e também foi adaptado para o cinema com a participação de Brad Pitt e Tom Cruise. De certa forma, pode-se dizer que o seu trabalho abriu espaço para os filmes de vampirismo que temos até hoje.


Toda essa introdução e reflexão foi para que finalmente pudesse apresentar um livro e uma autora: “Pequenas Realidades”, da Tabitha King. A obra foi publicada em 1981, e, recentemente, foi produzida uma tradução brasileira pela DarkSide Books. Se este sobrenome te lembra alguém, seu palpite está certíssimo. Ela é esposa de Stephen King.

Dois fatos curiosos: O esboço de “Carrie, a Estranha” (primeiro livro do Stephen) foi recuperado da lata de lixo e essa história circula bastante por aí. O que poucos sabem, é que foi justamente Tabitha que viu algo potente no material e incentivou o esposo a reformular a obra. O resto você já sabe… E recentemente, o casal fez uma doação através da fundação que leva o nome de Stephen King. Ao publicarem o fato, foi mencionado o escritor e sua “esposa”. Isso mesmo que você entendeu, apenas o nome dele foi citado no agradecimento. Ele então, fez uma defesa e falou contra a invisibilização das mulheres e suas criações. Na ocasião, ele ressaltou a importância dela em sua obra, como também as produções da esposa, considerando ela uma grande escritora do terror.


Agora que já sabemos um pouquinho, vamos ao livro… Escrito em 1981, ele antecipa filmes famosos como “Querida, encolhi as crianças”. Sim, desculpa o spoiler… Há uma máquina que miniaturiza coisas e que passa a ser utilizada com fins maléficos.

Se você pudesse roubar, ops, digo miniaturizar, qualquer coisa no mundo, o que escolheria?


Uma das metáforas que eu considero incríveis desse livro é a necessidade que a vilã tem de querer diminuir os outros ao seu redor, não simplesmente miniaturizar fisicamente. É um jogo psicológico. Gosto de como a autora constrói relações de poder e como elas são assustadoramente reais. Acho que é justamente isso que me provoca neste livro de terror especialmente. A obra é muito realista no perfil psicológico dos personagens, embora seja um pouco confusa na temporalidade e na dimensão física das miniaturas. Tabitha soube trabalhar com o pior dos seres humanos para nos mostrar que o terror pode mostrar o inimaginável em criaturas não humanas, mas pode ser absurdamente revelador quando os monstros somos nós ou qualquer um que encontremos.


O final dele também é bem imprevisível (não se preocupa que aqui não tem spoiler, pode ler até o fim da frase). E dessa vez eu jamais suporia a hipótese que encerra a história de Tabitha.

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