#composição #guia de composição

O Guia Definitivo de Composição - Parte 1

Ândria Kamninski
Publicado em
04 de junho de 2020

Esse artigo é uma tradução/adaptação do artigo de Anton Gorlin sobre composição, disponível AQUI. O artigo procura sumarizar diversas noções de composição formando um guia compreensível e fácil de entender.

Nessa primeira parte os tópicos abordados serão:

  • A Importância da Composição
  • Composição de Fotografia x Composição de Pintura
  • Conceito e Princípios de Composição

A IMPORTÂNCIA DA COMPOSIÇÃO

Um bom exemplo para explicar a importância da composição é se imaginar em um quarto totalmente bagunçado. É difícil de achar qualquer coisa, ou andar pelo quarto. Enquanto isso, um quarto limpo e arrumado traz uma sensação de harmonia e é possível transitar por dentro dele com mais facilidade.

O mesmo princípio serve para todas as artes visuais. Um layout apropriado de elementos cria uma sensação de harmonia, movimento, tensão – o que você quiser criar. A composição fala por mil palavras, conta histórias e estimula seu espectador a explorar sua obra. Para quebrar as regras, você primeiro precisa conhecer as regras. Eu preferiria chamar elas de “recomendações” ou algo similar ao invés de regras. Existem algumas pessoas que odeiam todas as “regras”. Não existem regras restritas desse jeito, existem coisas que funcionam melhor. E você pode fazer elas te ajudarem a criar uma composição incrível.

COMPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA x COMPOSIÇÃO DE PINTURA

Tanto a pintura quanto a fotografia são artes visuais. Elas são semelhantes em muitos aspectos, mas existem uma grande diferença. Para uma pintura, um artista tem mais tempo para planejar sua obra prima. Ele pode gastar bastante tempo verificando e calibrando cada um dos elementos para a composição perfeita. Já na fotografia, não há essa oportunidade de ter tempo para fazer tudo perfeitamente. Para alguns gêneros de fotografia como retrato, macro e natureza-morta, é possível levar um tempo para construir a composição. Mas já na fotografia de paisagens, é preciso aceitar o que a mãe natureza der e decidir rapidamente a composição enquanto ainda há luz. É ainda pior para fotografias de rua e esporte; o fotógrafo pode ter apenas uma fração de segundo para decidir.

Na foto foram marcados alguns elementos de composição: algumas diagonais levando para a pena, 2 espirais e uma diagonal geral de transição do preto para o branco. Atribuição: Por Ilya Repin – The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM), distribuído por DIRECTMEDIA publicado por GmbH. ISBN: 3936122202., Propriedade Pública, Link

Como uma regra geral, um fotógrafo tem bem menos tempo do que um artista para decidir a aparência final da fotografia. Essa é a razão de sempre tirar algumas fotos extras para caso você tiver perdido algum aspecto na primeira foto.

CONCEITOS E PRINCÍPIOS DA COMPOSIÇÃO

Antes de irmos fundo nas técnicas, nós precisamos entender o que a composição é em si, como ela é criada, quais seus elementos principais, como ela afeta sua percepção e do quê ela é capaz.

FORMATO E ENQUADRAMENTO

Nós precisamos sempre começar com o formato de enquadramento, já que isso é a primeira coisa afetando a foto sua percepção geral. Historicamente, o formato das imagens costumava ser retangular. O aspecto ratio mais comum é 3:2 e ele vem do tamanho do sensor 36 x 24 mm (e anteriormente do rolo de filme). A razão para o enquadramento ser horizontal é óbvia – é como nós vemos as coisas por conta da posição dos nossos olhos. Eu desconheço qualquer boa razão para as medidas 3:2 e 4:3 (versão menor) parecerem ser mais naturais. Eu acredito que 2:3 seria uma medida melhor para retratos por conta do formato alongado que fica no corpo.

O enquadramento mais desafiador de se fotografar é o quadrado. Pela sua natureza, ele é muito estável e não tem nada de dinâmica. Então, você precisa ter um motivo perfeito para escolher fotografar com um quadrado. A coisa a ser fotografada deve ser bem estável por si mesma ou não ser dinâmica. Um exemplo bom seria algo simétrico ou com padrões.

ALINHAMENTO VERTICAL E HORIZONTAL

A regra do polegar é escolher um enquadramento horizontal quando a maioria das linhas compositoras forem horizontais e vice versa. Algumas vezes você pode fazer o oposto para aumentar a tensão, colocando algo vertical no meio de uma composição horizontal. Neste caso, garanta que há espaço para respirar em volta do meio.

PREENCHA O ENQUADRAMENTO

O princípio de preenchimento é fácil de compreender e implementar. Você tem um enquadramento, e tudo nele deve trabalhar para a sua história, para a sua imagem. É necessário organizar elementos de uma forma que não faça parte da foto ficar aglomerada e outra parte vazia. Esse conceito também se aplica para o tamanho das coisas. Tente usar toda a área que você tem à disposição, não apenas parte dela. Leve dessa forma: Se você cortar parte da foto e ela ficar mais agradável e harmoniosa, então você não preencheu o enquadramento.

O rochedo preenche a parte inferior-esquerda do enquadramento, e as nuvens preenchem o lado oposto.

Aviso importante aqui – não coloque nada com muito brilho, contraste ou escuridão muito perto dos cantos já que o peso visual aumenta na parte próxima às extremidades. Isso também se aplica a qualquer forma que distraia o espectador. Quanto mais próximo do canto, mais atenção as coisas terão. Isso se dá por conta do jeito que nossos olhos analisam a imagem.

Outra idéia ruim é posicionar linhas verticais perto das bordas verticais ou linhas horizontais perto das bordas horizontais. O peso visual dessas linhas aumenta e distrai o espectador da parte principal da imagem.

NARRATIVA VISUAL

A narrativa visual é o ponto principal de qualquer fotografia. Você vê algo e quer contar sobre ele ou sobre a história que ele transmite para o espectador. Se sua foto não tem nada para dizer ou contar ela é apenas uma imagem, e não uma fotografia. Esse guia é sobre formas diferentes de narrativa visual. Você começa a ler um livro pelo começo para ter uma ideia do que está acontecendo. Existem regras de escrita e estruturas específicas em um livro, como narrativa linear, não linear, precisa ter um enredo, etc. É a mesma coisa com as artes visuais e fotografia em particular. Você precisa ter um assunto, um contexto e um layout. Todas essas coisas e muitas mais formam sua narrativa visual. Então, trate a composição como uma ferramenta de narrativa visual.

Veja o exemplo abaixo e note como o corte afeta a história que a imagem conta. Tente compreender qual o enredo em cada uma das imagens finais.

Qual é o truque aqui? O que muda é o contexto. O contexto nos dá uma história para contar.

PONTO DE INTERESSE

Primeiramente você precisa identificar sobre o que é a sua foto, quem é o herói, e qual o assunto principal. Pode ser algum objeto, como uma árvore, ou também alguma emoção, algum clima. Existe alguma coisa que te fez ir lá, pegar a câmera e começar a planejar essa foto. Você está criando uma história em volta desse assunto. O ponto de interesse realmente pode ser qualquer coisa, um humano, um animal, um sentimento, uma atmosfera, uma relação entre objetos secundários, uma cor, um padrão, um ritmo, etc. Não se limite a algo sólido.

O ponto de interesse aqui é a comparação, a relação entre a vegetação viva e morta.

ESPAÇO PARA RESPIRAR

A primeira coisa que você deve se perguntar é onde você vai colocar o assunto principal. Vamos começar com um cenário simples, com um assunto sólido. Antes começar quebrar a cabeça nas regras e técnicas de composição, nós precisamos falar sobre o posicionamento geral dentro do enquadramento. Uma das regras fundamentais é dar para o seu assunto o que é chamado de espaço para respirar. Tirando algumas raras exceções, é sempre necessário ter alguma área em volta do assunto principal que não esteja bloqueada por outros objetos ou bordas. Um objeto começa a sufocar visualmente se ele (ou alguma parte dele) estiver muito perto da borda. O olho do espectador tropeça nesse tipo de posicionamento, e a experiência harmoniosa é quebrada.

A primeira imagem preenche bem o enquadramento e tem uma boa diagonal mas a borda bloqueia o movimento e a montanha se torna muito dominante e massiva pois ela mal chega na ponta. A segunda imagem é mais arejada e dá a sensação de movimento.

VERIFIQUE OS CANTOS

Já vimos que posicionar objetos de grande contraste perto das bordas é algo muito delicado, mas com cantos é ainda mais crítico. Sempre confira os cantos antes de pressionar o botão da foto, para evitar qualquer coisa que possa distrair o espectador. Qualquer objeto muito próximo dos cantos imediatamente atrai muita atenção. A chave para uma boa composição é simplicidade e claridade.

A imagem da direita tem muito mais claridade, por não ter nenhum objeto perto dos cantos.

VERIFIQUE O FUNDO

Também é muito importante verificar o fundo. É preciso se assegurar de que o assunto principal está separado do fundo, que ele se destaca de forma clara e visível. Cuide para que não tenha nada saindo da cabeça da pessoa, como um galho. No geral, é importante que o fundo não esteja se misturando ou interagindo diretamente com o ponto de interesse principal.

SIMPLIFIQUE

Considere desta maneira: Se algo não adiciona nada para a história, é melhor excluir. O ideal é sempre incluir o mínimo possível.

Para criar boas composições, você precisa aprender a excluir coisas desnecessárias sem remorso ou arrependimento. Se algo está distraindo, competindo, ofuscando, ou atrapalhando de qualquer jeito, remova. Vá atrás da claridade. Algumas coisas você poderá remover depois no Photoshop, mas algumas vezes é mais fácil excluir elas logo na hora de tirar a foto.

A primeira imagem tem um monte de areia e uma falésia na direita – e tudo isso está distranindo o espectador do principal da foto, a tempestade.

Isso tudo se resume a uma propriedade muito conveniente dos nossos olhos que nos ajuda a filtrar o que nos interessa entre muitas coisas. Na vida real, nosso olho instantaneamente foca em algo interessante que vimos, e ignora o resto. Contudo, nas artes visuais não é assim que funciona. Nós precisamos retirar tudo que nossos olhos filtrariam automaticamente e ajudar o espectador compreender o conceito da nossa foto logo nos primeiros segundos.

EQUILÍBRIO

Equilíbrio de composição é um conceito complicado. No geral, você provavelmente vai querer ter uma foto balanceada. Contudo, as vezes uma composição sem equilíbrio pode ajudar a aumentar a tensão, a expressividade e transmitir sua idéia de forma mais apropriada. Normalemente, é fácil de medir o equilíbrio apenas ao olhar para a foto.

O Sol é a área mais brilhante e que mais chama atenção, então foi necessário balancear ela com outra grande área clara. (Essa área precisou ser maior por ter menos brilho)

Se pergunte uma coisa – a imagem acima é equilibrada ou ela tende para o lado? Os elementos “pesados” são escuros, brilhantes, áreas com muito contraste e zonas saturadas. Você pode facilmente equilibrar um pico de uma montanha escura com uma nuvem brilhante e colorida, por exemplo. O peso real do objeto não é relevante nesse caso; o relevante é a sua importância na foto e sua proximidade com o centro.

O peso visual aumenta quando os elementos principais se distanciam do dentro, de acordo com a regra que foi mencionada antes, sobre não colocar nenhum objeto “pesado” perto das bordas ou cantos a não ser que você esteja tentando equilibrar algo extremamente maior.

Alguns exemplos de composições equilibradas e desequilibradas.

Quanto maior for o objeto que você inclui na cena, mais difícil é de balancear ele com outras coisas. Algumas vezes uma pedra gigante no primeiro plano sufoca a foto inteira. Então, o equilíbrio também se aplica à relação do objeto principal com a cena.

A imagem na esquerda é desbalanceada por causa da pedra enorme no canto inferior, que é grande demais e não tem nada forte o suficiente para se igualar a ela. A foto da direita é balanceada de forma agradável – as reflexões claras na areia e céu servem de contraposto para o penhasco preto.

Mas lembre-se: Equilíbrio não é o oposto de dinâmica. Equilíbrio é o contrário de desequilíbrio. A decisão de fazer uma composição equilibrada ou desequilibrada fica inteiramente para o criador, de acordo com a sensação que ele quiser transmitir.

Essa foto tem um desequilíbrio proposital para aumentar o senso de escala e perigo na composição.

EQUILÍBRIO ESTÁTICO

O equilíbrio estático é criado por objetos similares ou iguais situados na mesma distância do centro gravitacional do enquadramento. Por exemplo, se você tiver uma nuvem vermelha de um lado e uma grande árvore preta do outro lado da imagem, elas vão balancear uma à outra.

Equilíbrio estático feito com a nuvem e um redemoinho na água como contraposto.

EQUILÍBRIO DINÂMICO

O equilíbrio dinâmico é criado quando dois objetos completamente diferentes em tamanho são posicionados em diferentes distâncias do centro. Toda essa diferença estabelece um equilíbrio.

Esse exemplo é mais difícil de entender. Nós temos uma onda escura e uma água saturada. Esses elementos são balanceados pelo céu saturado. O céu tem tons mais suaves mas ele faz o trabalho de balancear bem por estar mais perto da borda do enquadramento.

PRIMEIRO PLANO, PLANO MÉDIO E PLANO DE FUNDO

Esses planos são uma forma básica de subdividir a sua fotografia. A foto é uma passagem do mundo 3D para uma imagem 2D. Os objetos reais que fotografamos perdem toda a sua dimensão 3D ao serem fotografados, e é por isso que é essencial usar todas as formas possíveis para adicionar volume e tridimensionalidade para a foto.

A primeira coisa é ter três camadas na sua foto – o primeiro plano (tudo que está perto do fotógrafo), plano de fundo (os objetos distantes, como por exemplo montanhas e céu), e o plano central (tudo que estiver no meio dos outros)

QUAL O SENTIDO DOS TRÊS PLANOS?

Se a foto tiver apenas um plano, a imagem vai parecer achatada e monótona. Quando ela tem dois planos, elas acabam competindo uma com a outra. Já três planos ajudam o espectador a ver a imagem de forma mais suave e profunda.

Mas não é como se fosse obrigatório sempre ter três planos em uma foto. Por exemplo, se você tirar uma foto com uma lente telefoto dando zoom em uma montanha com várias árvores, a foto vai ter apenas um plano distante com todos os elementos nele. Nesse caso, ter apenas um plano funciona. Outro exemplo de onde poucas camadas funcionam é quando a paisagem é muito gráfica, como em uma manhã nebulosa. Já o uso de dois planos pode ser muito útil quando você desejar uma sensação de competição na sua foto.

Paisagem gráfica com dois planos

EXEMPLO DE LAYOUT DE FOTOS

Por exemplo, em uma paisagem marinha clássica, seria adequando você incluir algumas montanhas distantes e o céu como plano de fundo, o mar como plano central e algumas pedras ou a praia como primeiro plano. Outra forma de resolver uma paisagem marinha seria dar zoom e ter uma onda como primeiro plano, tendo pouco ou nenhum plano central. Você também poderia entrar na água e tirar foto do movimento da água como primeiro plano.

Chegamos ao fim da primeira parte! O resto dessa tradução vem nos próximos dias, estão não deixe de acompanhar nossas postagens para saber o fim dessa saga!

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Comment 1

Roddama

Eu estava com no inicio de uma arte quando parei para ler o guia, agr vejo que tenho muito o que mudar nela. Esse artigo vai/ajudou muito em minha composição :))

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