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Quero Trabalhar com Jogos Digitais! - Parte 2

Julia Eiko
Publicado em
07 de julho de 2020

Nesta segunda parte da matéria especial sobre carreira dentro da área de Jogos Digitais (você pode ler a primeira parte clicando aqui), vamos pautar nossa conversa seguindo três tópicos:

  • Opções de carreira
  • Produtoras de games
  • Como tudo isso funciona fora do papel

PRINCIPAIS OPÇÕES DE CARREIRA DENTRO DA ÁREA DE JOGOS DIGITAIS

Criar jogos digitais não é apenas uma questão de programação. Muito pelo contrário! A produção de games envolve diversos profissionais de diferentes áreas, indo desde artistas, até profissionais de marketing. Essa grande abrangência acontece pois, dentro dessa indústria (assim como várias outras), existem carreiras que estão diretamente relacionadas ao produto, ou seja, ligadas ao desenvolvimento dele, e outras que estão, de certa forma, mais distantes.

Tendo isso em mente, podemos dizer que quando se trata exclusivamente do processo de produção, existem 4 áreas essenciais: Game design, programação, sound design e ilustração/arte gráfica.

Game Design

Se pensarmos na criação de um jogo como a construção de uma casa, o game designer pode ser entendido como um arquiteto. Ele é o responsável por planejar aspectos como mecânicas de jogo, jogabilidade, história e até mesmo aparência, tudo para tornar a experiência do jogador a melhor possível.

Em empresas de grande porte, a equipe de game designers pode ser divida em designer de mecânica de jogo (ou de sistemas), que cria e equilibra as regras que estarão presentes; level designer (de fase ou de ambientação), responsável por elaborar o ambiente, as fases e as missões do jogo; redator, que tem a tarefa de desenvolver a narrativa, diálogos do jogo, sistema de dicas, cutscenes e outros elementos que exigem escrita; e, por fim, designer-chefe, que é reponsável por coordenar e manter a boa comunição entre toda a equipe (não apenas de designers), além de ser quem possui a visão de como o projeto deve ficar.

Skills
Para trabalhar nesta área, é importante conseguir comunicar-se com clareza pois as ideias que são pensadas aqui devem ser de dominío de todos os outros membros da equipe de desenvolvimento. Além disso, conhecimentos envolvendo arte, escrita e técnicas de programação são necessários para a formação de um bom profissional.

Salário
No Brasil, um game designer com experiência de mercado pode chegar a receber, em média, quatro salários mínimos mensais. Mas até lá, a média de remuneração para quem está começando na área, pode chegar à dois.

Programação

A área da programação pode ser pensada como um conjunto de trabalhadores contratados para construir a casa, tijolo por tijolo. Isso significa que o programador, mais conhecido como desenvolvedor de games, é responsável por desenvolver o código base e construir a física do jogo. A programação dentro da indústria de games, normalmente, utiliza linguagem em C, C++ e JAVA.

Skills
Para trabalhar como desenvolvedor de jogos digitais, é importante ter conhecimento da língua inglesa e o mínimo da linguagem técnica (pois a maioria das linguagens de programação são em inglês), assim como ter uma base de design e conseguir trabalhar em equipe.

Salário
A média salarial para profissionais iniciantes na área é de, aproximadamente, dois salários mínimos por mês. Já para um programador exeperiente, este salário pode ultrapassar os 4 salários mínimos mensais.

Ilustração/Arte Gráfica

Ainda pensando na associação entre a produção de um jogo e a construção de uma casa, podemos enxergar o artista gráfico e o ilustrador como designers de interiores, ou seja, as pessoas que irão decorar todo o imóvel.

A área de arte gráfica é responsável por criar e definir os elementos gráficos do jogo, como a paleta de cores que estará presente, o estilo das artes e as composições. Já a área da ilustração, é encarregada de desenvolver os concepts de personagens, cenários e outros elementos importantes para a história e para a ambientação. Vale ressaltar que as duas áreas não são, necessariamente, desassociadas. A questão aqui são as técnicas utilizadas para a produção dos elementos.

Skills
Ambas as áreas exigem do profissional habilidades de desenho, teoria das cores e certos conhecimentos da área de game design. Além disso, é importante conhecer e saber utilizar softwares de ilustração.

Salário
No Brasil, o salário de um ilustrador e/ou artista gráfico dentro da indústria de jogos digitais pode chegar a até três salários mínimos.

  • *A informação é da área como um todo. Não encontramos informações mais específicas.

Sound Design

Imagine um survival horror sem nenhum tipo de som, seja a trilha sonora sombria característica ou a ambientação! Não parece muito divertido, certo? Isso acontece pois o som é um elemento fundamental dentro da produção de jogos digitais, permitindo que o jogador tenha uma imersão maior.

Criar elementos sonoros (como diálogos e trilhas sonoras),assim como editá-los e garantir que eles se conectam com o jogo, são atribuições dos profissionais que trabalham com sound design.

Skills
É importante, para seguir carreira nesta área, ter conhecimento sobre capitação de efeitos sonoros, síntese sonora e domínio sobre áudio dinâmico.

Salário
No Brasil, um sound designer pode receber, em média, até dois salários mínimos*.

  • *A informação é da área como um todo. Não encontramos informações mais específicas.

Além das áreas que estão diretamente ligadas ao processo de produção, existem outras que englobam pré-produção, e estratégias de venda e divulgação da obra. Este é o caso de roteiristas, storyboardes, escultores e profissionais de marketing.

Falando rapidamente sobre elas: O roteirista também pode fazer parte da equipe de game design, sendo responsável por escrever e detalhar toda a trama da história (quando ela existe); o storyboarder, como já vimos na matéria especial sobre storyboards, é responsável por elaborar um roteiro ilustrado, cena por cena, prevendo como as cutscenes e movimentos; o modelador tradicional, apesar de não ser tão comum, é uma das funções que podem surgir com o desenvolvimento de um jogo 3D. Ele desenvolverá protótipos de como os personagens, cenários ou elementos importantes pra o jogo devem ficar; por fim, o profissional de marketing é a pessoa (ou equipe) encarregada de desenvolver planos de venda e divulgação, assim como gerenciar o posicionamento do jogo no mercado, seu retorno financeiro e desempenho.

Produtoras de Jogos Digitais

Como o próprio nome já descreve, produtoras de games são empresas responsáveis pela elaboração e produção de jogos digitais para os mais diferentes públicos e plataformas, variando de empresa para empresa. Elas podem ser separadas em dois grupos: AAA (se pronuncia triple-A) e indies – ou independentes.

Espaço interno de uma das sedes da Riot Games, produtora de League of Legends.

Esta é uma classificação que está associada, principalmente, ao tamanho da empresa (mais especificamente, ao número de colobadores), orçamentos de produção e divulgação.

Em outras palavras, produtoras de médio e/ou grande porte que possuem um alto orçamento de produção e marketing são consideradas como AAA. Já as produtoras que funcionam com poucas pessoas e um baixo orçamento são consideradas indies, também chamadas de independentes.

É importante ressaltar que desenvolvedoras AAA, como já foi mencionado, possuem um orçamento muito maior para a produção de seus jogos. Ou seja, podem investir uma equipe maior, equipamentos e softwares de mais reconhecimento no mercado. Sem contar que a “expectativa” sobre jogos de empresas AAA é muito maior, principalmente por precisarem atingir um número de vendas alto para contarem lucro.

COMO É TUDO ISSO NA PRÁTICA?

Para entendermos um pouco melhor como tudo o que falamos funciona, conversamos* com o pessoal da Animvs, uma produtora indie de Curitiba, sobre os principais desafios de se produzir games no Brasil.

Sobre a Produtora

A Animvs nasceu, oficialmente, em 2015 após participar e ser premiada em um concurso de criação de jogos promovido pelo Sebrae. Seu fundador, Andrei Daldegan, conta que apesar da fundação da empresa ser datado no ano de 2015, seu surgimento é muito anterior. “Sempre fui envolvido com computação, principalmente programação. Na verdade, comecei a programar para fazer jogos, na adolescência ainda. Então, se tivéssimos que dizer que a Animvs nasceu em 2015… Na verdade não! Ela existe há bastante tempo, com a nossa vontadede produzir jogos e todo o tempo em que passamos nos preparando e estudando”, explica.

Após a empresa ser devidamente formada e os projetos idealizados, Daldegan começou a montar sua equipe. Atualmente, o grupo é composto por cinco pessoas, sendo quatro delas diretamente ligadas ao desenvolvimento dos jogos (Andrei Daldegan, Douglas Coelli, Igor Bueno e Luiz Bussolo) e uma, ao marketing (Patrick Borges). Além disso, a produtora tem parceria com proissionais de outras áreas para ajudar com sons e ilustrações.

Por ser uma empresa ainda em crescimento, a Animvs conta com um espaço físico reduzido para produzir seus jogos, que fica na parte da frente da casa do próprio Daldegan. Mas, isso definitvamente não impede que o trabalho seja bem feito. Na verdade, é comum encontrar empresas indies brasileiras que não possuem um espaço físico próprio.

Visão Sobre a Indústria

Para Andrei, a indústria de games ainda está nascendo no país e muitas coisas ainda precisam ser desenvolvidas. “Nós vemos os principais polos, como Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte, trabalhando para a área se desenvover. Acredito que o Brasil ainda precisa melhorar bastante a maturidade desse modelo de negócio, da indústria de jogos, e principalmente na questão de apoio, as vezes não só financeiro mas de uma comunidade consistente. Mas tudo caminha muito bem! Curitiba é um referencial, tanto que estamos aqui”, comenta.

Ainda em relação ao mercado de games do país, Andrei acredita que algumas questões sociais devem ser repensadas para que a indústria avance, como por exemplo, quais são os objetivos da indústria? Qual é o seu valor para a comunidade?

Quando paramos para pensar nisso, entendemos que questionamentos assim podem realmente colaborar com o crescimento do mercado, principalmente, em relação ao suporte que ele pode receber, tanto monetário, quanto social, envolvendo o ensino de técnicas de produção em maior quantidade, departamentos jurídicos especializados e até mesmo, receptividade do público.

Patrick Borges, profissional de Marketing da Animvs, complementa a discussão mencionando que “muito do que chama os jogadores para um produto é a sua qualidade, aí não importa se é um selo nacional, canadense ou taiwanês” mas, mesmo assim, ainda há um certo preconceito em relação à produções nacionais.

Produção

O mercado alvo da produtora são os jogos mais tradicionais (você pode ler sobre isso acessando a parte 1 desta matéria), visando o entretenimento. Atualmente, a equipe está trabalhando em dois jogos direcionados para computador: Dungeon Crowley, que fica pronto até o final deste ano e Nine.

Entretanto, em 2015 e 2016, a empresa produziu jogos para o setor educacional (que hoje são de domínio do Sebrae) durante o consurso de criação de jogos promovido pela Sebrae.

A equipe de desenvolvimento da Animvs, como já foi mencionado, é composta por quatro pessoas:

  • Daldegan – Produtor e fundador da empresa
  • Coelli – Modelador 3D
  • Bueno – Game Designer
  • Bussolo – Level Designer

Se você quiser tirar alguma dúvida sobre a indústria de games em si, opções de carreira ou qualquer outra coisa relacionados ao universo dos jogos digitais, deixe aí nos comentários 🙂

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