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Sou Artista e Não Consigo Parar de Procrastinar

Julia Eiko
Publicado em
02 de junho de 2020

Tenho quase certeza que a maioria dos artistas já passou por uma fase de bloqueio criativo total e procrastinação até perder um prazo – e se você ainda não passou por isso, sinto informar-lhe que esse ponto chega para todos haha. O fato é que trabalhar com Arte e Entretenimento, apesar de algo que pode ser divertido e prazeroso, é considerado um ponto fora da curva quando se trata de carreira e, por isso, acaba se tornando uma tarefa bem desgastante. Mas quer saber um segredo? Problemas como estes podem ser amenizados com o que chamamos de competências emocionais.

Este conteúdo é uma adaptação escrita do episódio 59 (Competências Emocionais do Artista – Com Lucas Parolin e Silvana Steff) do Sala 1604, nosso podcast.

Elas fazem parte de um conceito dentro da psicologia conhecido como inteligência emocional. Pense nelas como uma habilidade que podemos fortalecer e desenvolver diária e permanentemente, usando como base o nosso autoconhecimento e gerenciamento de emoções.

Como elas ajudam?

A principal funcionalidade das competências emocionais para nós, como artistas, é a forma como elas facilitam a identificação de atitudes e comportamentos negativos que, eventualmente, trarão consequências negativas práticas e emocionais, e de atitudes de autogerenciamento para manter o foco, alcançar objetivos e metas diárias.

Para não deixar nenhuma dúvida, Murilo Stupak, apresentador do Sala 1604, conversou sobre as competências emocionais com a psicóloga e profissional de desenvolvimento pessoal Silvana Steff, e o artista e professor da Revo Lucas Parolin. A dinâmica da conversa foi simples: Stupak introduzia um tema, Parolin representava o lado dos artistas e Steff representava o lado da psicologia, mostrando como podemos lidar com os problemas indicados.

PROCRASTINAÇÃO

O primeiro tópico da conversa foi procrastinação. Sabe aquele papo de “dá para assistir mais um episódio porque eu ainda tenho tempo”? A procrastinação é basicamente isso. É deixar para depois algo que pode ser feito no momento. Para Steff, a procrastinação pode ser encarada como uma forma de auto sabotagem. “Ela traz um sofrimento para o ser humano, apesar de ser perfeitamente esperado que exista”, comenta.

MINHA VIDA DE ARTISTA

- por Lucas Parolin

“Eu já procrastinei muito! Sempre tive dificuldade de canalizar energia para fazer o que eu precisava e acabava deixando para última hora, com a ideia de que aquilo daria certo, que eu iria conseguir. E a minha história de vida sempre comprovava que, de uma certa forma, dava certo! Na escola eu deixava para estudar de última hora, entregar trabalho da faculdade, eu deixava para última hora e ia dando certo.

Só que a medida que a complexidade das coisas que eu tinha que entregar aumentavam, essa “última hora” crescia junto. E isso gerou um sofrimento muito grande na minha vida, de virar madrugadas trabalhando e coisas que eu vi que não queria mais viver.

Hoje, eu posso dizer que ao longo desses últimos anos como profissional tenho conseguido resolver essa questão, graças ao trauma da experiência negativa e a ajuda de outras pessoas.”

DICAS PARA MELHORAR

- por Silvana Steff

Segundo Steff, um dos fatores que contribuem para a procrastinação é a falta de planejamento e definição de metas de trabalho. A partir do momento em que você encontra clareza em relação ao o que quer fazer e define seu plano de trabalho, você começa a ter um foco muito maior. Esse foco, por sua vez, ajuda a dinamizar o tempo e tornar real todo o seu planejamento.

Isso quer dizer que para parar de procrastinar eu só preciso de uma planilha com meus horários?

Não é bem assim, ok? Lembre-se que estamos falando sobre competências emocionais, o que significa que alguns processos mentais devem fazer parte do seu plano de ação para que as coisas aconteçam da melhor forma. Veja alguns pontos que Steff menciona durante a conversa:

Aprenda a lidar consigo mesmo

Compreender quais são os seus próprios limites, como é a sua adaptação em relação à novos fluxos de trabalho e, principalmente, o quão procrastinador você é e pode ser, é um passo fundamental. É a partir do autoconhecimento que você poderá desenvolver um planejamento mais eficiente e menos maçante.

Saiba diferenciar o que é importante e o que é urgente


Muitas vezes acabamos confundindo essas duas coisas e ao invés de focarmos em atividades importantes, focamos em atividades urgentes (o que, no nosso caso, não é necessariamente um sinônimo). Entenda importante como projetos e trabalhos que você P R E C I S A fazer – um freela com data de entrega marcada, por exemplo – e urgente como atividades que, graças as circunstâncias, podem ser feitas no momento – olhar alguma rede social.

Tenha autocontrole

É como a Steff fala durante a gravação do podcast: “Se eu sei que tenho uma tendência a procrastinar, eu me organizo de uma forma que eu não sofra”. Em outras palavras, isso significa que o autocontrole não diz respeito apenas a controlar os instintos de procrastinação. É muito mais uma questão de como se posicionar em relação ao problema de forma eficiente e, aos poucos, torna-lo uma situação quase inexistente.

Dica Extra

Tente criar uma fuga controlada!
Essa pode ser uma boa solução para quem quer mudar mas não sabe muito bem como. Ninguém espera que você mude a sua forma de trabalho da noite para o dia, então, comece devagar.

Se você sabe que tem uma tendência a procrastinar, torne o seu ambiente de trabalho/estudo o mais produtivo possível. Deixe por perto outros projetos que você tem em mente ou coisas que gosta de ler e que ajudam a desenvolver a sua técnica de alguma forma. E isso pode funcionar com aplicativos também! – Nós sabemos como é difícil resistir a uma olhada rápida nas redes socias. Quando essa vontade aparecer, tente usá-la para responder mensagens relacionadas aos seus projetos, e-mails e, eventualmente, ver o que outros artistas estão desenvolvendo.

“Vou dar o exemplo do e-mail. Você tem que escrever um e-mail dentro de 10 minutos. Você sentou para escrever e aí resolve tirar o pózinho da mesa, entrar em um desenho que você precisa dar uma olhadinha e abrir o instagram. Opa! Eu já sei que vou fazer aquelas outras três atividades para procrastinar o que é importante. Então eu já deixo organizado naquele espaço duas, três atividades que se eu fugir um pouquinho, já consigo voltar para aquele momento importante. Aquele momento de foco”.

Fala de Silva Steff durante o podcast.

PERFECCIONISMO

Outro tópico, que pode estar relacionado à procrastinação, é o perfeccionismo. Aquela sensação constante de insatisfação e de que o seu próprio trabalho nunca está bem terminado.

MINHA VIDA DE ARTISTA

- por Lucas Parolin

“Eu, pelo menos, percebi muito em mim, um pouco do que muitos artistas têm, que é a questão do perfeccionismo. E o perfeccionismo, em um primeiro momento, pode até parecer algo bom. você pensa que está lá e que vai fazer o melhor trabalho do mundo. Mas, essa é uma ideia falsa! É a ideia de algo perfeito que não existe.

E aí, ao querer fazer um trabalho perfeito, você o evita – isso é o que falávamos sobre auto sabotagem – porque qualquer coisa que você fizer não vai sair perfeito. Então você deixa para última hora porque não tem coragem de enfrentar aquilo.”

DICAS PARA MELHORAR

- por Silvana Steff

O perfeccionismo também é um tipo de auto sabotagem, sem dúvida alguma. Sobre o tema, Steff comenta que ele [o perfeccionismo] “também traz um sofrimento emocional tamanho. O perfeccionista vai focar muito e poucas questões. E ele realmente tem tendência a procrastinar”. Além disso, alguns problemas como baixa autoestima e insegurança começam a surgir na vida do artista.

E o que eu posso fazer?

Antes de tudo, devemos entender que o perfeccionismo vai muito além de “quero que tudo fique perfeito”. Existem pessoas que realmente sofrem de maneira severa com isso e, portanto, não é tão simples falar sobre o tema. As dicas que Steff dá durante o podcast são voltadas para os artistas que têm uma preocupação muito grande com a qualidade de seus trabalhos, sem necessariamente serem perfeccionistas em um nível extremo.

Dê os primeiros passos
O bebê começa a caminhar dando os primeiros passos, certo? É a mesma coisa com o nosso desenvolvimento como artistas. Precisamos ter a iniciativa de começar o projeto, mesmo sem ter certeza se a forma como o faremos é a melhor. Conforme vamos caminhando, vamos corrigindo, investindo mais nessa evolução, mas antes de tudo, começamos.

Não tenha medo de errar
Nem tudo o que você fizer será uma obra-prima e tá tudo bem! Um dos maiores erros que podemos cometer quando falamos de perfeccionismo é nos privarmos de tentar algo por medo de que não fique bom. Isso entra em contato direto com o que falamos acima. Tente. Tenha iniciativa e se não der certo, tente de novo. O importante é não deixar de executar o seu planejamento e realizar suas tarefas.

FIM?

Para evitar que a matéria fique muito extensa, aqui embaixo segue esse episódio completo do podcast ok? (Até porque ele tem 51 minutos de duração!).

Ah, e se você tiver alguma questão que afete a sua vida profissional – e eventualmente pessoal – deixe nos comentários para trocarmos experiências 🙂

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Comentários 2

leizedesa

Gente, como eu precisava ouvir falar sobre isso! Estou aprendendo a lidar com minha procrastinação na raça. Observando meu comportamento profissional diariamente, pontuando o que me causa desconforto e lutando pra consertar no dia seguinte... e acho mesmo que esse processo é infinito. O problema é que, a essa altura, meu prazo já foi pro espaço e eu tenho várias pequenas crises de ansiedade ao longo do dia. Obrigada por tratarem desse assunto de uma forma tão prática e didática!

junho 6, 2020
Lu

Achei muito interessante, me identifiquei bastante com a questão do perfeccionismo e procrastinação. Ando num bloqueio artistico louco,ao ponto de perder o prazer em desenhar, e creio que boa parte dele se deve a essas questões discutidas no podcast. Fico bastante satisfeita ao receber dicas de uma psicóloga que realmente entende os desafios psicológicos do artista. Confesso que já passei por vários profissionais e o que senti falta era justamente o direcionamento para os conflitos mais específicos da área artística. Estão de parabéns! Obrigada Revo!

junho 6, 2020
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